[Resenha] A morte e os seis mosqueteiros, Anatole Jelihovschi

Título: A morte e os seis mosqueteiros
Autor: Anatole Jelihovschi
Editora: Jaguatirica (cortesia)
Páginas: 152
Onde comprar: Amazon

Acabei de concluir a leitura desse livro e não sei o que pensar dele. É um livro que dói ler. Dói porque mostra a realidade de muitas crianças - e adultos - que vivem nas favelas, onde o tráfico reina. Onde os bandidos mandam, desmandam e matam sem piedade. Onde existem pessoas que deveriam trazer uma sensação de paz e fé, mas que só abusam do "poder" que têm sobre os outros. 
“(...) Uma vez o pastor Manelão chamou à frente todos os que tinham dor ou doença, estendeu um cobertor enorme e cobriu-os. E gritava lá de cima, se vocês tiverem fé, Jesus vai expulsar os demônios dos seus corpos. Vocês têm fé em Jesus? E a igreja toda respondia, temos fé em Jesus Cristo que veio à terra para nos salvar. E ele repetia, repetia um milhão de vezes. Quando a coberta foi retirada ninguém mais sentia nada e todo mundo contribuía com a igreja porque, como dizia o pastor, se não pagasse que não esperasse milagre. E quanto mais pagasse, maior era o milagre que se podia esperar.”

A morte e os seis mosqueteiros nos apresenta à história de seis garotos muito amigos, que vivem numa favela. Quando eram crianças, a vida deles não passava de brincadeira pura e, para Zequinha, personagem principal e narrador, de tentar agradar uma mocinha rica muito bonita.

A favela – como sempre vemos em noticiários – era violenta, com bandidos e policiais trocando tiros e matando pessoas indiscriminadamente. Ainda na infância, os meninos têm um choque de cultura, pois veem que estudar e tentar ser alguém na vida pode não dar o futuro que sonham, o que seria muito fácil conseguir através do crime.

Os seis mosqueteiros são Zequinha (narrador), Juca Pelo de Burro, João Mocotó, Zé Grande, Batata e Meia Noite. Alguns entram para o mundo do crime e os que não entraram se afastassem do grupo. A história, como já devem ter imaginado, é envolta em mortes brutais e textos extremamente reflexivos. 
“- Bandido parece que está com tudo, mas não está com nada, Zequinha. Sei, sei o que pensa, eles são os donos do morro, fazem o que querem, têm muito dinheiro, andam de moto e não é moto vagabunda não, é coisa fina. Agora raciocine. As motos são deles? Não, todas roubadas. E o que fazem com tanto dinheiro? Continuam morando na favela e se saírem, morrem. Na verdade, morrem antes dos vinte anos. Se não é a polícia, eles se matam uns aos outros. Hoje este é seu amigo, amanhã ele te dá um tiro. A gente é pobre, tem que ralar para ganhar o nosso dinheiro, mas é como Deus dispôs, pense bem. Tem o caminho de Deus e o caminho do diabo, e o caminho do diabo todo mundo sabe onde vai parar.”

Como disse, ainda não sei o que pensar desse livro, pois ele mexeu muito comigo, me fez pensar em nossa sociedade. Sobre como nós que vivemos no “bem-bom” fora das favelas não nos importamos com o que acontece lá dentro. Como a polícia é corrupta, como a Igreja é corrupta, como o crime manda na vida das pessoas e como muitos jovens entram nesse mundo perdido por não conseguirem ver um futuro promissor, porque são oprimidos por nossa sociedade.

Apesar de esse livro ter me posto para pensar e eu ter gostado da história, foi muito difícil me envolver na trama e acompanhar tudo. A leitura foi arrastada e durou quase 20 dias. Mas isso é, a meu ver, um problema pessoal, pois minha mente estava cheia de coisas que me faziam divagar para outros lugares que não o livro.

Voltando à história, achei muito bem construída e gostei dos personagens. Zequinha é o típico garoto que tenta navegar contra a maré, mas você fica apreensivo para saber se ele vai, de fato, conseguir ser diferente, seguir o caminho que imagina em sua mente; o caminho do “bem”. Os demais mosqueteiros foram abordados ao pouco na história e são, igualmente, bem construídos. A única personagem que não consegui gostar – ela não me convenceu! – foi a Julinha, que é a mocinha que Zequinha tenta impressionar quando é mais novo. Um personagem importante, que me ganhou foi Tonho, irmão mais velho de Zequinha. Também gostei muito da construção da personalidade do Pastor Manelão, que me fez sentir um ódio doentio. Esses três últimos personagens citei por cima, pois esse livro precisa ser lido sem muito conhecimento de causa.

Além de o livro não ter fluido para mim, o final foi rápido demais, as explicações pareceram jogadas e senti ele um pouco aberto. No mais – e isso está ficando redundante – é uma leitura altamente recomendada e sou muito grata à Editora Jaguatirica por ter publicado esse livro e ao autor, Antole Jelihovschi, por tê-lo escrito.

Se você gosta de tramas reais, que fazem pensar, esse livro é leitura obrigatória para você.

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15 comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Oi Bruna
    Pelo que pude compreender, é uma obra bem marcante e entendo bem seu ponto de vista sobre doer ler, ainda mais por envolver a realidade de crianças que vivem em favelas e afins. É uma temática bem complicada e eu fiquei curiosa quanto ao desenvolvimento. Nao conhecia, mas com certesa gostaria de poder ler.
    Beijos, F

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  3. Oi, tudo bom?
    Apesar do assunto ser atual e o livro trazer uma mensagem muito forte, não o leria no momento pois não tenho psicológico para acompanhar a snotícias no jornal, imagine um livro todo sobre. Sei que ignorar é pior, mas ainda não consigo encarar essa realidade assim.

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  4. Leituras que nos trazem um pouco da realidade podem ser um soco no estômago, o que nem sempre contribui para uma boa experiência.
    Sinceramente, não sei se eu gostaria de ler esse livro.

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  5. Olá,
    Devo dizer que infelizmente eu fujo bastante de leituras que tratam da realidade das pessoas que moram em favelas e/ou comunidades, por que, eu sou extremamente covarde aos aspectos da sociedade. Eu sei que essa é uma realidade dura e cruel, mas eu fico triste e por isso prefiro ficar fora dessas questões.

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  6. Oi Bruna,
    eu sou super aberta a esse tipo de leitura, mas não sei se leria esse livro em especial, o título já me deixou bem triste e lendo sua resenha percebi que não estou no clima de ler quatro amigos que claramente foram vítimas da sociedade sendo mortos de forma brutal. Vou anotar a dica pelas reflexões que a trama proporciona e quem sabe em um futuro próximo eu esteja mais receptível a uma história como essa.

    Beijos!

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  7. Olá,

    De certa forma esse assunto se tornou algo rotineiro, principalmente porque onde moro tem muitas comunidades numa situação parecida com a descrita do livro. É algo muito complicado, porque a muitas coisas implicadas. No entanto, acho que seria uma leitura muito interessante de se fazer, o que me causa receio é a pouca quantidade de páginas, fico pensando se a história será desenvolvida por completo.

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  8. Oii!!
    Achei o tema abordado bem diferente e de grande importância. Uma pena a leitura não ter sido fluída para você, é uma pena quando isso acontece. Esse livro e basicamente a vida real que todo jovem que mora em uma comunidade passa. Eu conheci pessoas que estudaram comigo e viraram bandidos, sinto muito por isso, mas as pessoas fazem escolhas, e nem sempre certas. Gostei da resenha, não sei se eu leria, mas gostei de conhecer essa história.
    Beijos

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  9. oi tud bem
    Eu acho esse tema bem interessante.
    Geralmente prefiro ler livros onde tudo é feliz, mas de vez em quando eu aprecio esse tipo de leitura que mostra a realidade da situação. Se der eu vou ler ele.

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  10. Olá, tudo bom?
    Fiquei muito interessada nesse livro, por abordar esse tema de crianças que crescem em favelas e o rumo que suas vidas podem tomar pelo meio onde vivem. Apesar do final não ter sido exatamente o que você esperava e a leitura ter demorado a se desenvolver (20 dias né?), eu fiquei bem curiosa pela obra, por seu tom realista e pelas reflexões que traz, ainda que estas venham juntas de mortes brutais em algumas vezes.
    Sugestão mais que anotada. Espero poder ler em breve!

    Beijos!
    @PollyanaCampos
    Entre Livros e Personagens

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  11. Ooi,
    Não tenho muito interesse em livros com esse perfil. Mesmo que a história pareca muito bonita e também forte. Acho que vou deixar a dica passar mas adorei a reflexão que fez na resenha.

    Corujas de Biblioteca

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  12. Oi Bruna, como está?
    Eu consigo imaginar o quanto essa leitura te impactou já que a realidade com certeza é mil vezes pior. Choro só de imaginar tantas crianças e jovens vivendo no meio dessa situação e fico indignada de ver essas mesmas pessoas convivendo com gente que só pensa em se autopromover às custas de quem está desesperado.
    Abraços e beijos da Lady Trotsky...
    http://rillismo.blogspot.com

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  13. Oi!
    Sinceramente eu fujo de livros muito reais, principalmente dessa realidade das favelas, afinal imagino que deve ser muito difícil morar em um local tão 'hostil'.
    Mas a realidade às vezes faz-se necessária, e pelo jeito o livro consegue mostrar isso com maestria sem colocaram uma venda nos nossos olhos para passar uma imagem menos dura daquele local.
    Uma pena que a leitura não tenha sido tão flúida pra você

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  14. Oi oi Bru,
    mil desculpas, pois eu não gostei do livro. Porque, por mais que esse livro seja legal por abordar assuntos importantes e reais, ele foi um livro que não me apeguei nem um pouco. Estou em um momento de leitura de New Adult e Distopia, acho que um livro assim iria me desanimar. Compreendo que muitos dos comentários foram positivos, mas acho que um choque de realidade é uma coisa que não quero agora.

    Beijoss, Enjoy Books

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  15. Oi, tudo bem?
    Eu não conhecia o livro e já gostei dele, eu gosto dessas obras que trazem assuntos reais que acontecem no dia a dia, ainda mais no Brasil. Fiquei bem curiosa e com certeza lerei, mesmo se a leitura não for muito fluida pra mim.

    Beijos

    http://www.oteoremadaleitura.com/

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